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O Poço: um filme impactante

Dirigido pelo espanhol Galder Gaztelu-Urrutia, O Poço é um filme que nos tira do eixo porque nos possibilita diversas interpretações e, também, nos leva à reflexão sobre como nos portamos socialmente e como nos comportaríamos em situações extremas.

Em primeira instância, temos um regime vertical de organização em que cada nível possui duas pessoas. Durante um mês, elas vivenciam aquela realidade em que, a depender do lugar onde está, talvez não consiga receber comida. Do céu ao inferno, os personagens sofrem e lutam pelo que comer – chegando, em um ponto extremo, a tentar comer uns aos outros.

O olhar somente para si faz com que, quando estão em um nível mais favorável, não consigam pensar no semelhante e, assim, comem desesperadamente e não tem cuidado algum com os alimentos postos à mesa em forma de banquete. Claramente, o egoísmo reina na maioria daqueles que ali estão enclausurados.

Existe gula, avareza, soberba, luxúria, inveja, ira e preguiça. Os pecados capitais permeiam durante os diferentes personagens e a solidariedade, citada por um deles, seria a solução para que o sistema prisional funcionasse e a comida chegasse a todos.

Em busca de solucionar esse problema, o protagonista, Goreng, desce a plataforma com seu colega de nível para que possam redistribuir igualmente a comida. Porém, na trajetória, eles tentam impor isso e muitos acabam morrendo. Pensar na desigualdade social em que vivemos, bem como nos lugares de privilégio e de opressão do modo como se configuram no filme, nos faz traçar um paralelo com a realidade em que estamos inseridos.

Vivemos em um país desigual, não pensamos no coletivo e, quando ocupamos um lugar de poder, muitas vezes nos tornamos opressores. Em entrevista ao Digital Spy, o diretor deste longa metragem contou: “Pode haver uma crítica ao capitalismo no início, mas mostramos que, assim que Goreng e Baharat tentam convencer os outros prisioneiros a adotar o socialismo e deliberadamente dividir a comida, acabam matando metade das pessoas que eles queriam ajudar”.

Galder Gaztelu-Urrutia explica: “No fim, o problema surge quando você exige a colaboração de todo mundo, e vê que não chegou a nenhuma grande conquista. Goreng faz aquilo que planejou, como levar a panna cotta para o nível mais baixo, mas ele não mudou o pensamento de ninguém sobre dividir a comida”, explicou

A panna cotta seria a mensagem aos que administram o poço para mostrar que a finalidade havia sido alcançada. Entretanto, o final do filme fica em aberto e o próprio diretor afirma ter gravado um outro final, mas resolveu deixar pra lá e atiçar ainda mais a nossa imaginação.

Assim como este filme me impactou, espero que tenha trazido muitas sensações em você. Ele está disponível na Netflix. Assista-o e compartilhe o seu olhar conosco por meio dos comentários. Tenho certeza que traz muitas outras leituras que eu não cheguei a abordar, inclusive neste final cheio de margens. Será um prazer conhecer o seu ponto de vista!

Jornalista. Baiana. Leonina. Feminista preta. Apaixonada por tudo o que diz respeito a sexo e sexualidade. Palavras e fotografias são suas taras.

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