Sem Tabus

Embriagar, extravasar e perder-se

Algumas coisas nos marcam, como, por exemplo, a primeira cantada. Nós, mulheres, somos sempre quem primeiro ouvimos elogios, provocações e indiscrições em vez de proporcionarmos isso. A primeira delas, que pode também soar como ofensa, acaba ficando em nós. Os homens, diferentes da gente, costumam ser mais abertos quando o assunto é a famosa cantada. Qualquer corpo feminino que lhes chame a atenção é motivo para que externalizem seus sentidos. Os homens são mais ágeis, mais descomprometidos (ou inconsequentes) quando a tentativa é essa. Já as mulheres costumam ser mais preocupadas e calculistas porque não gostam de errar nem de prejulgamentos.

Algumas mulheres são observadoras, gostam de se mostrar interessantes e de alcançar os seus objetivos aos poucos e na manha. Entretanto, há que se ter, em algum momento, uma cantada. Vejamos: Sentir atração, bater aquela dúvida, abortar a ideia de tentar. Sentir vontade, embriagada, tentar e cair de leve. Neste último caso, há um fator preponderante: a bebida. Quem bebe, fica destemida, larga-se, permite-se e age por impulso. Agir por impulso nem sempre é tão bom, além das atitudes que não competem com o que se é.

A bebida, normalmente, relaxa e permite ao consumidor socializar. Quando em excesso, ela atua de forma mais inesperada, aceitando que se fale e aja de formas diferentes do comum porque a consciência perde certas barreiras e algumas coisas acontecem sem que se pense e julgue com antecedência. Nesse contexto, surgem as tais cantadas femininas. As mulheres, quando bebem, partem para o ataque, pois usam sua lábia (adooooro!). Entretanto, cantadas e ficadas após embebedar-se nem sempre são as melhores ideias. É preciso, às vezes, controlar-se.

Então, delícias, sossegar o facho não significa virar santa. Curtir a bebedeira não é sair atirando e depois se arrependendo por aí, apesar de dizerem que a bebida nos permite fazer o que tínhamos vontade e, por pensarmos demais, evitamos. Curtir a bebedeira é se sentir mais livre, mas nem toda liberdade precisa ser confundida com saturação sexual. Embriagar-se não é perder-se em si, pelo contrário, pode ser um ato de se encontrar.

Jornalista. Baiana. Leonina. Feminista preta. Apaixonada por tudo o que diz respeito a sexo e sexualidade. Palavras e fotografias são suas taras.

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