Entrevistas

Ex-dançarina de funk e algumas histórias para contar

Hoje vai rolar um bate papo e, dessa vez, vai ser com uma ex-dançaria de funk. Isso mesmo. Ela pediu que sua identidade fosse preservada por meio do anonimato e é claro que pedido de entrevistada é uma ordem, além do mais ela também não quis ceder imagem alguma, portanto, a que ilustra esta publicação é de um baile desconhecido. Paulista, nossa despudorada fez parte do mundo do funk durante sete anos. Este foi tempo o suficiente pra que ela traçasse uma história longa e maravilhosa, assim como ela mesma assinalou.

Primeiramente, Adriana Soares (nome fictício) começou dançando axé e, a partir de um convite, ela fez um teste para dançar funk e foi selecionada. Seu primeiro show foi num domingo à tarde numa casa antiga no Embu das Artes, em São Paulo. O sucesso na época era Bonde do Tigrão e, nessa de desvendar esse novo mundo, ela não se fixou em Mc nenhum, mas dançou aqui e ali chamando atenção por onde passava. Então, já que estamos mais inteirados sobre ela, comecemos a nossa sessão de perguntas!

Eu: Minha linda, como foi seu primeiro show?
Ela: Super tenso. O funk é muito sensual e sexy. O primeiro show foi uma música da minha época estourada, foi bonde do tigrão e foi bem diferente, Lu, eu estava com tanto medo de cair, sei lá, que nem a cabeça levantava, mas deu certo.

Eu: Vejo o funk de uma forma bem sexual mesmo. Não só por causa da dança, mas também pelas letras das músicas. Nessa época que o Bonde do Tigrão estourou foi que eu conheci esse gênero musical. Acho que aconteceu assim com muita gente. Sem essa conotação sexual, a criançada toda dançava aqui na Bahia.
Ela: Antigamente funk era uma batida, sabe? Bem pouca putaria ou palavrões. Bonde do Tigrão, Tati Quebra Barraco, Naldo e Lula, até mesmo Claudinho e Bochecha tinham essa pegada mais leve. Hoje, claro, o funk como qualquer outro ritmo, tem aquela batida, porém muita apelação sexual e exige cada vez mais que o homem ostente, obtenha poder. Não julgo porque, na verdade, está simplesmente acompanhando a realidade. Quem não via por aí meninas com 12 anos grávidas (a chamada novinha)? Hoje, infelizmente, é o que mais tem. Quem não via o menino de 14 usando maconha, hoje se vê lança perfume, cocaína, lsd e tantos mais? É tanto que muitos dizem “o bagulho agora é tóxico”. A música retrata o que há. Aí vem muitos e dizem que tem apelação sexual. Claro que tem! Tem sim porque se não tivesse, ninguém iria dizer “Essa música lembra você (tava no fluxo avistei a novinha no grau, sabe o que ela quer?)”. Na minha época, não existia esse fluxo, era quermesse, coisas de pai e mãe saírem de suas casas e levarem seus filhos de até 16 anos.

Eu: É isso mesmo, a música e o estilo acompanha o ritmo precoce. Mas sim, e você acha que se emancipou por causa da entrada no funk? Você acha que você se tornou mais mulher depois do funk?
Ela: Sim e não… rsrsrs. Sabe que antes de dançar funk, Lu, já era vaidosa. Fiz dança do ventre, fiz pole dance, enfim, sempre fui de ser mais na minha; mas, após o funk, todos os homens me desejando, me cobiçando, me querendo, me dizendo elogios mexeu comigo, mas esse lado sensual e vulgar sempre tive (com quem me relacionava). Acho que toda mulher gosta de ouvir “Nossa, que linda ou que loira/morena/ruiva/mulata!”. Só acho que o típico GOSTOSA me incomoda.

Eu:  É verdade. Sou sua fã! Deve ser lindo você dançando. Ainda mais por já ter passado por tantos estilos.
Ela: Ah, que nada, Lu! Eu sou sua fã. Te admiro porque você foi lá e fez a #pohaficaseria (by Insta @pudornenhum).

Eu: Então me diz quais as situações mais inusitadas pelas quais passou neste período em que dançava.
Ela: Uma vez um cara entrou em contato e me contratou para um show normal como os outros. Foi tudo pago certinho e quando chego no evento só tinha um senhor com aparência de bem sucedido. Era um show particular.

Eu: Eitaaaa! Genteee, e você fez, né?
Ela: Sim, normal. Ele ficou na plateia e eu no palco… rsrs.

Eu: E de inusitado com as pessoas da plateia e também com os próprios colegas de profissão?
Ela: Na plateia, um rapaz muito bonito e charmoso jogou a cueca melada para mim no palco. Aquilo me deu um tesão tão grande que deixei ele entrar no camarim após o show, tiramos muitas fotos e ficamos (apenas beijos). Outra vez foi um body shot (um jeitinho de tomar tequila no umbigo) que fiz em uma menina e o noivo dela estava na plateia. Nossa, ele amou e ficou louco. Como era casa de swing, eles transaram intensamente para todos verem. Com um novato, já rolou algo mais sério. Ele era Dj novinho de 18 anos e era o primeiro show dele com a nossa cia. Todo calouro paga mico e o dele foi achar que todas nós, umas 20 garotas, éramos todas lésbicas… rsrs. Ele pirou quando íamos nos trocar e fingíamos gemer…rsrsrs. Daí um dia, eu estava tomando banho com o som dentro do banheiro e não ouvi ele chegar, só vi quando ele entrou. Nossa, pirei com aquele novinho de pau para fora.

Eu: Muitas historias! Hahahaha Normalmente são quantos nos grupos de funk?
Ela: Depende. Tem aqueles de um cantor apenas; tem um cantor e Dj; um cantor, Dj e duas dançarinas.  Vixi, infinitas combinações!

Eu:  hahahaha … e no seu caso era como?
Ela: Eu trabalhava assim: precisava de dançarina, eu ia. Tinha feira, fazia. Ficar em camarote, ia. Fazer eventos, ia. Sempre seguindo meus princípios.

Eu:  Entendi. Era um sucesso! hahaha E por que acabou saindo? Largando esta profissão?
Ela: Fase. Ok, menti… rsrs. Cheguei a fazer um sucesso tremendo. Ensaios, revistas e, quando ia para o Uruguai, um mês antes perdi meu pai.

Eu: Ooooooh…Sinto muito.
Ela: Obrigada, mas continua aiiiiiiii….Bola para frente!

Eu: Com certeza. Depois disso, então, você então acabou deixando de dançar..
Ela: Sim. Família, né? Sou eu, minha mamis e minha irmã mais nova (também tenho um irmão por parte de mãe que nunca morou com a gente). Então, eu seria o ombro para ajudar minha mãe. Bom, hoje faço eventos. Trabalho em recepcionar, divulgar produtos, festas de decoração.

Eu: Hummm. E você sente falta?
Ela: Sim . Principalmente de ser desejada por pessoas que nunca viram meu rosto.

Eu: E esta viagem pro Uruguai era algum evento especifico pra dançar ou algum outro trabalho?
Ela: Sim, era para dançar. Uma temporada de 23 dias. Era um empresário que veio, conheceu o funk carioca e veio a São Paulo para conhecer a noite. Estávamos em um festa a lazer, ele se encantou com uma modelo conhecida nossa e ela nos apresentou. Fechei o contrato e tudo, porém eles foram muito carinhosos comigo, entenderam e ainda me pagaram uma quantia para despesas em relação ao acontecido. Eu apenas devolvi, pois não iria mais continuar dançando. Eram ótimos profissionais, tanto que há um mês recebi outra proposta para voltar. Estou pensando …!

Eu: Tentador, ne?
Ela: Demais. Só que eu já estou velha para essas coisas. O corpo não é mais o mesmo.

Eu: Se fosse assim, não receberia convites. Mazoia! Rsrs
Ela: Bora malhar e mesa de cirurgia porque a gravidade não é minha amiga… Rsrsrs.

Depois disso, rimos e continuamos a papear sobre coisas nossas e sobre nossa vida – nada que valha a pena compartilhar com vocês. Adorei esse papo com nossa despudorada que, atualmente, encontra-se casada e muito bem na vida. Espero que tenham gostado. Agora vou colocar um funk porque, para ser sincera, eu adooooro!

Eu vou passar cerol na mão, assim, assim
Vou cortar você na mão, vou sim, vou sim
Vou aparar pela rabiola, assim, assim
E vou trazer você pra mim, vou sim, vou sim
(Bonde do Tigrão)

Jornalista. Baiana. Leonina. Feminista preta. Apaixonada por tudo o que diz respeito a sexo e sexualidade. Palavras e fotografias são suas taras.

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