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Prazeres ou amor de carnaval?

Carnaval é considerada a festa da carne, da alegria, do amor e de prazeres. Neste mês, você pode soltar suas fantasias e revelar os seus demônios mais escondidos. Os pudores e moralismos passam longe desse clima de libertação e entrega. Essa é a minha definição de carnaval no campo da ficção, pois, até esse ano, nunca tinha ido a essa festa.

Então, não era um carnaval de grande porte, como os das capitais, é carnaval de vila, bloquinhos e muita gente conhecida. Mesmo sendo uma festa de pequena proporção, estava, há alguns anos, entusiasmada para escolher uma fantasia e soltar as feras presas (mentira, só para descontrair).

O look estava ok. Só faltava seguir viagem e viver as fantasias. Chegamos à vila e fomos alojados numa minúscula casa com uma galera muito animada e disposta a curtir o baile da noite. Todos(as) estavam empolgadíssimos para estrear suas fantasias, e era uma diversidade delas, de coelhinha, tiazinha, Minnie. Você quer saber qual foi a minha???? A Minnie, que decepção! Era o momento de extravasar, mas fui bem Disney World.

Ao chegar à festa, o clima estava maravilhoso, as batidas das músicas convidando para liberar os seus demônios, dancei muito, criei passos e coreografias exclusiva para cada música em um clima descontraído e bem carnavalesco. Após descansar os ânimos, meus olhos se encontraram ao de um rapaz que chamou-me muito atenção, logo o meu sensor de prazer disse: quero você hoje.

Essa era a minha missão naquela festa: jogar charme, olhares e lançar aquele gato, assim o fiz de maneira um tanto discreta e indiscreta de acordo às suas retribuições. Eu olhava e ele correspondia, sorria e ele também, assim ficamos por várias horas, mas sem nenhuma atitude da parte dele, não gosto de homens sem atitudes, como já tinha deixado claro com o meu corpo que eu o queria. Pensei dar um sim para ele, um eu te quero. Mas acredito ter simplesmente massageado o ego dele, somente.

Logo não sou mulher de insistir e a noite prossegue porque a ordem é diversão. Voltei ao clima anterior, quando, de repente, surge um homem maduro me convidando para dançar. Como gosto de atitude, dançamos e… pasmem este era o amigo do boy narcísico, o que estava com o ego massageado com os meus olhares – uma mistura de vingança, ego ferido e preconceito dançaram na minha mente, e pensei: por que não?? Aliás, é carnaval. Dançamos, nos abraçamos, bebemos e nos beijamos. Curti demais aquele meu primeiro carnaval e a primeira vez que ficava com um homem mais velho. Trocamos o whatsapp e, durante a noite, curtimos a festa da melhor maneira. Nem sempre os planos são perfeitos. Aprendi a vivenciar as experiências sejam elas quais forem, vai passar.

Fim de carnaval, volta à vida normal, horários a serem cumpridos, boletos a pagar e os demônios adormecidos, sem álcool , drogas , raves, loucuras sob controle, tudo prossegue na normalidade prevista. Não costumo salvar números de homens, normalmente passo o meu e espero eles ligarem. Com ele não foi diferente, à noite recebo uma mensagem seguida de um convite para sairmos e tomarmos um vinho. Fiquei na dúvida, pois já tinha curtido a festa do carnaval com essa pessoa, o Pedro (amigo do boy narcísico).

Sendo sincera, Pedro não fazia o perfil de homens que eu me atraio e ficar com ele foi como dar uma resposta para uma interrogação, um vácuo. Pedro era um jovem senhor, gosta de dançar, tem uma linguagem jovial, cabelo grande, usa bermuda e chinelo de dedo – é como o tio solteiro que não aceita as marcas do tempo e se afasta de tudo que remete coisa de velho. Estou sendo cruel, eu sei, um dia também podem dizer isso sobre mim, sempre tem pessoas dizendo coisas sobre nós, nem sempre agradáveis. A minha boa ação já tinha terminado naquele carnaval, tudo que fizemos ou vivemos tinha ficado lá, então a minha resposta é: Hoje eu não posso.

Passa alguns dias e Pedro retoma o contato. Não sou uma pessoa grosseira, mas com uma bagagem de histórias me fazem repeli-lo por estar tão distante daquele padrão de beleza de homem que me atrai, como ficar com um homem tão mais velho que eu, assim como a presença dele fazia eu lembrar daquele boy, bonito e dentro daquele padrão que eu aprendi a gostar e também querer ter para ser desejada, olhada, aceita.

Sabia que a rejeição daquele garoto “padrão” mexia com a minha baixa autoestima, tão fragilizada, pois passava mil coisas na minha mente com aquele jogo de morde e assopra que ele estava fazendo comigo, se ele me queria por que não chegou em mim, por quê não teve atitude? Se eu estava demonstrando também querer. Mas a resposta veio quando eu estava dançando com Pedro, lá estava ele aos beijos com outra garota.

Como pode doer a rejeição de um desconhecido, que você não sabe nem o nome, nunca ouviu a voz, sentiu o toque nem conhece as coisas que ele gosta e do que não gosta, se é divertido ou chato, mas que te conquistou com um olhar e você o odiou na mesma intensidade ao vê-lo dançar e se doar àquela garota que, por sinal, tem o mesmo estilo de você, mas era outra. Ela, não eu. Imaginei: será que ele não gostou do meu cabelo, será que é porque eu sou negra? mas não ela, a outra, também era, e fiquei sem respostas, apenas questionamentos.

Diferente desse que nem sei o nome, Pedro era atencioso e divertido e, mesmo depois da festa, conversava comigo, me chamava para sair, tomar vinho, que eu adoro, por quê não ? Aceitei. Combinamos de tomar vinho e conversar, já que na festa somente dançamos e nos beijamos. Confesso não lembrar do gosto do beijo, mas tinha língua que não gosto, pois beijo de língua para mim é muito íntimo. Marcamos um horário e passei o endereço da minha casa.

Ele ainda estava no vilarejo, por isso a sua demora. Eu estava tranquila nem um pouco ansiosa, apenas aguardando o momento para ele dizer que não vinha mais e eu dormir. Passa alguns minutos, o celular toca e era ele dizendo não encontrar o endereço, então fui ao seu encontro. Ao chegar, olhei de perto e fiquei sem graça ao perceber que as luzes da festa e o álcool no meu corpo tinha o favorecido, pois todo o meu padrão estabelecido do que é o belo foi estraçalhado naquela hora.

Não me julguem, somos seres perversos em algum momento de nossas vidas, embora ele não tenha o perfil de homem gostoso, conversa bem e fico à vontade na sua presença. Seguimos, então, ao centro da cidade, mas tudo estava fechado, pois era feriado na cidade. A alternativa dele foi irmos para sua casa e tomarmos o vinho lá, não me veio outra opção na hora e aceitei ir, afinal, nem desejo por ele eu sinto, vamos somente conversar.

Ao chegar, tomamos vinho, conversamos e demos muitas risadas. Convidou-me para ouvir música e a televisão ficava no seu quarto, que, por sinal, é muito confortável, com duas poltronas, uma cama de casal imensa e um espaço muito amplo. Ao som das melhores do MPB, dançamos e ele foi acariciando as minhas mãos, os meus ombros, percorrendo as suas mãos pelo meu vestido e subindo lentamente. Eu tentava puxar o vestido e tirar a sua mão, apertando com força como se fosse um sinal para ele que continuasse, pois a minha vontade era que ele não parasse e ousasse um pouco mais.

Os meus pensamentos comandavam o meu comportamento e virei de costas para poder sentir o seu pau roçando na minha bunda, movimento esse que o deixou bem excitado e o impulsionou a me apertar como se quisesse colar o meu corpo junto do dele. Ao tirar o meu vestido lentamente, como se tivesse sendo orientado pela música que tocava, ficamos nus, experimentado os detalhes mais sensíveis dos nossos corpos.

As mãos dele, ao tocar o meu corpo, era como se estivesse massageando as camadas mais profundas e sensíveis da minha pele. Com isso, pontos de prazeres foram descobertos pela primeira vez. Sentia uma força e leveza ao mesmo tempo como se não controlasse o meu corpo. Ondas involuntárias de orgasmos eram sentidos, expelidos por meio de um jato de gozo, líquido, água que molhava nossos corpos. Sua mão desliza com muita facilidade por todo o meu corpo com ritmos lentos e frenéticos, aquela sintonia do ritmo da música e do toque não fez percebermos que já era dia.

Acordei com um homem ao meu lado, numa cama que não era a minha em um ponto da cidade onde nunca tinha ido e uma casa fechada, só nós dois e ele detinha o controle da minha saída. O medo não se fazia presente, mas o desejo de sentir tudo que tivemos naquela noite alimentava a vontade de permanecer. Não estava com pressa, poderia ficar mais tempo. Porém, ele precisava resolver algumas coisas. Ao caminho de casa, fomos conversando, perguntei se tinha namorada e ele respondeu que não, então fui bem direta e fiz mais um questionamento sobre o seu interesse em namorar, ele foi muito sincero ao dizer que não pretender namorar. Gostei da sua sinceridade, como também do encontro.

Os dias iam passando e em todos eles as conversas eram constantes, um bom dia, boa noite, relatos dos dias e os encontros cada vez mais intensos e surpreendentes, pois em cada um descobrimos novos prazeres e ele experimentava comigo os seus 53 anos de vivência, ele tinha cinco décadas e três anos. Sabe o que passava em minha cabeça? Era imaginar que antes mesmo de eu nascer, ele já estava transando, tendo outras mulheres, experimentando seus corpos e o quanto ele tinha aprendido ou gostado de cada uma deles de maneiras diferentes. Isso não me incomodava, pois naquele momento era a minha vez.

Ele me deixava louca em momentos inesperados do meu dia com suas mensagens picantes e relatos do que mais gostou da noite anterior. Eu adorava tudo aquilo e desejava ainda mais, pois sabia que a cada encontro uma surpresa que poderíamos dizer e fazer todas as coisas que viessem dos nossos desejos mais íntimos. Aliás, não tinha sentimento, era somente sexo. Ninguém mais sabia dessa relação que iniciou no carnaval, além de nós e um amigo, que fazia críticas a respeito da idade e do físico de Pedro. Eu revelava para ele que sim, sabia que sua aparência não era bela, tão pouco era um garotinho. Juro que tive medo dele enfartar, mas, quando estávamos juntos, a imagem se apresentava diferente aos meus olhos.

Os encontros constantes e as conversas de sexo, cada dia mais empolgantes da parte de Pedro, alertaram em mim um sensor de quebra de expectativa inconsciente porque eu sabia o que ele queria de mim e eu também tinha convicção do que querer dele porque, de repente, as mensagens dele sobre sexo me incomodavam? Estava eu deixando de desejá-lo? Não era isso, pois os encontros ainda eram fantásticos.

Precisava ser sincera comigo e parar com esse jogo que não era mais o de ego e prazer, era falta de outras conversas, encontros além de um quarto e de trocarmos outras experiências além de sexo. Sei que não era amor e não era objetivo tê-lo como um namorado. Não imaginava apresentando-o à minha família, aos meus amigos, saindo com eles em ambientes públicos. Então que falta era essa?

Conversar com ele sobre isso era improvável , pois estava bem definida para nós dois o que queríamos um do outro, precisava me afastar, entender aquele sentimento confuso. Enviei uma mensagem falando que os nossos encontros eram maravilhosos, mas futuramente iria me prejudicar, então era bom pararmos antes de desenvolver algum tipo de apego. A resposta dele foi objetiva: Você me deixou sem resposta, só posso te oferecer isso!

Isso! Está palavra soou tão fria como seu significado: substitui o nome de algo que está afastado do falante e mais perto do ouvinte e esse ouvinte era eu, escutando as minhas vozes por muito tempo tão sufocadas, caladas, adormecidas, regidas por padrões do que eu deva ser, possa ser, quero ser… Isso! Era ele que estava decidindo não me querer ou eu não aceitar somente ISSO.

Da despudorada A.R.

De algum lugar do Brasil e, é claro, com bastante tesão.

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